segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

TÉCNICAS DE EDIÇÃO

Aqui começa o segundo semestre do mestrado.

Com um exercício:

1)  O melhor é fugir – Vasco Púlido Valente, «Público», 16/2/14

António Capucho acusou na televisão o PSD de ser governado por uma “oligarquia”, sem escrúpulos e, sem vergonha. Na impossibilidade de atribuir à palavra “oligarquia o seu sentido tradicional, é provável que ela se refira a uma espécie de associação que só tem em vista os seus próprios fins (dinheiro e posição) e que esclui os fins e as conveniências do partido e do país.
            No mesmo dia, e também na televisão, Pacheco Pereira, usando ainda uma linguagem estalinista, explicou que Passos Coelho tinha organizado uma “fracção” no PSD, financiada por meios que não se recomendam. E o doutor Mário Soares persiste em afirmar que uma parte considerável dos jornalistas se vendeu ao governo. Nem Capucho, nem Pacheco, nem Soares, nem como um todo, os jornalistas são personagens menores a que se possa conceder o privilégio da inimputabilidade.
E no entanto, ninguém protestou ou sequer deu sinais de ouvir e perceber o que diziam deles. Há uma decência básica, ainda comum recentemente, que se perdeu. Um político de uma certa envergadura não se importa que lhe atribuam-lhe infâmias de vária espécie e género e nem sequer se dá ao, excessivo, trabalho de as negar. Faz parte do ofício; e parece que tomar um partido de assalto para exclusivo bem da sua vida e da sua bolsa não passa a ambição normal de qualquer português. A “limpeza privada e a idoneidade pública” de cada um não sofre com a eventual verdade da sua reputação ou com o insulto, a injúria e até a calúnia que diariamente se despejam sobre eles. Os putativos factos revelados por Capucho, Pacheco e pelo dr. Soares não comove a opinião.
O que mais me intriga apesar do resto, é a geral atitude de apatia do jornalismo profissional. Não só não acha a “oligarquia ou a “fracção”, de que Capucho e Pacheco se queixaram, digna de investigação e de comentário, mas não lhes repugna aceitar em silêncio o que os “notáveis” lhes metem pela goela abaixo. Ora este asssunto não deve ser tomado como uma opinião trivial a propósito de uma querela partidária, pela simples razão de que afecta o regime inteiro. Como as diatribes do doutor Soares contra a honestidade dos jornalistas não devem ser atribuídas à notória irritação da personagem. Claro que se Portugal considera normal que pequenos grupos se instalem na direcção de um grande partido, com dinheiros de origem obscura, e concorda que os jornalistas são uma cambada de mercenários, o caso muda de figura, O melhor é fugir.

CORRIGIDO:

Vasco Pulido Valente, «O melhor é fugir», Público, 16/2/14:

António Capucho acusou na televisão o PSD de ser governado por uma “oligarquia”, sem escrúpulos e sem vergonha. Na impossibilidade de atribuir à palavra “oligarquia” o seu sentido tradicional, é provável que ela se refira a uma espécie de associação que só tem em vista os seus próprios fins (dinheiro e posição) e que exclui os fins e as conveniências do partido e do país.
No mesmo dia, e também na televisão, Pacheco Pereira, usando ainda uma linguagem estalinista, explicou que Passos Coelho tinha organizado uma “fracção” no PSD, financiada por meios que não se recomendam. E o dr. Mário Soares persiste em afirmar que uma parte considerável dos jornalistas se vendeu ao governo. Nem Capucho, nem Pacheco, nem Soares, nem como um todo os jornalistas são personagens menores a que se possa conceder o privilégio da inimputabilidade.
E, no entanto, ninguém protestou ou sequer deu sinais de ouvir e perceber o que diziam deles. Há uma decência básica, ainda comum recentemente, que se perdeu. Um político de uma certa envergadura não se importa que lhe atribuam infâmias de vária espécie e género e nem sequer se dá ao excessivo trabalho de as negar. Faz parte do ofício; e parece que tomar um partido de assalto para exclusivo bem da sua vida e da sua bolsa não passa da ambição normal de qualquer português. A “limpeza” privada e a idoneidade pública de cada um não sofre com a eventual verdade da sua reputação ou com o insulto, a injúria e até a calúnia que diariamente se despejam sobre eles. Os putativos factos revelados por Capucho, Pacheco e pelo dr. Soares não comovem a opinião.
O que mais me intriga, apesar do resto, é a geral atitude de apatia do jornalismo profissional. Não só não acha a “oligarquia” ou a “fracção”, de que Capucho e Pacheco se queixaram, digna de investigação e de comentário, mas não lhes repugna aceitar em silêncio o que os “notáveis” lhes metem pela goela abaixo. Ora este assunto não deve ser tomado como uma opinião trivial a propósito de uma querela partidária, pela simples razão de que afecta o regime inteiro. Como as diatribes do dr. Soares contra a honestidade dos jornalistas não devem ser atribuídas à notória irritação da personagem. Claro que, se Portugal considera normal que pequenos grupos se instalem na direcção de um grande partido, com dinheiros de origem obscura, e concorda que os jornalistas são uma cambada de mercenários, o caso muda de figura. O melhor é fugir.

Sem comentários:

Enviar um comentário