Aqui começa o segundo semestre do mestrado.
Com um exercício:
1) O melhor é fugir – Vasco Púlido Valente, «Público», 16/2/14
CORRIGIDO:
Vasco Pulido Valente, «O melhor é fugir», Público, 16/2/14:
Com um exercício:
1) O melhor é fugir – Vasco Púlido Valente, «Público», 16/2/14
António Capucho acusou na televisão o PSD
de ser governado por uma “oligarquia”, sem
escrúpulos e, sem vergonha. Na impossibilidade
de atribuir à palavra “oligarquia o seu sentido tradicional, é provável que ela
se refira a uma espécie de associação que só tem em vista os seus próprios fins
(dinheiro e posição) e que esclui os fins e as
conveniências do partido e do país.
No mesmo dia, e também na televisão,
Pacheco Pereira, usando ainda uma linguagem estalinista, explicou que Passos
Coelho tinha organizado uma “fracção” no PSD, financiada por meios que não se
recomendam. E o doutor Mário Soares persiste em
afirmar que uma parte considerável dos jornalistas se vendeu ao governo. Nem
Capucho, nem Pacheco, nem Soares, nem como um todo, os jornalistas
são personagens menores a que se possa conceder o privilégio da
inimputabilidade.
E no entanto, ninguém protestou ou sequer
deu sinais de ouvir e perceber o que diziam deles. Há uma decência básica,
ainda comum recentemente, que se perdeu. Um político de uma certa envergadura
não se importa que lhe atribuam-lhe infâmias de vária espécie e género e nem
sequer se dá ao, excessivo, trabalho de as
negar. Faz parte do
ofício; e parece que tomar um partido
de assalto para exclusivo bem da sua vida e da sua bolsa não passa a ambição normal de qualquer português. A “limpeza privada e a idoneidade pública” de cada um não
sofre com a eventual verdade da sua reputação ou com o insulto, a injúria e até
a calúnia que diariamente se despejam sobre eles. Os putativos factos revelados
por Capucho, Pacheco e pelo dr. Soares não comove a opinião.
O que mais me intriga
apesar do resto, é a geral atitude de apatia do jornalismo profissional.
Não só não acha a “oligarquia ou a “fracção”, de
que Capucho e Pacheco se queixaram, digna de investigação e de comentário, mas
não lhes repugna aceitar em silêncio o que os “notáveis” lhes metem pela goela
abaixo. Ora este asssunto não deve ser tomado
como uma opinião trivial a propósito de uma querela partidária, pela simples
razão de que afecta o regime inteiro. Como as diatribes do doutor Soares contra a honestidade dos jornalistas não
devem ser atribuídas à notória irritação da personagem. Claro que se Portugal
considera normal que pequenos grupos se instalem na direcção de um grande
partido, com dinheiros de origem obscura, e concorda que os jornalistas são uma
cambada de mercenários, o caso muda de figura, O
melhor é fugir.
CORRIGIDO:
Vasco Pulido Valente, «O melhor é fugir», Público, 16/2/14:
António
Capucho acusou na televisão o PSD de ser governado por uma “oligarquia”, sem
escrúpulos e sem vergonha. Na impossibilidade de atribuir à palavra
“oligarquia” o seu sentido tradicional, é provável que ela se refira a uma
espécie de associação que só tem em vista os seus próprios fins (dinheiro e
posição) e que exclui os fins e as conveniências do partido e do país.
No
mesmo dia, e também na televisão, Pacheco Pereira, usando ainda uma linguagem
estalinista, explicou que Passos Coelho tinha organizado uma “fracção” no PSD,
financiada por meios que não se recomendam. E o dr. Mário Soares persiste em
afirmar que uma parte considerável dos jornalistas se vendeu ao governo. Nem
Capucho, nem Pacheco, nem Soares, nem como um todo os jornalistas são
personagens menores a que se possa conceder o privilégio da inimputabilidade.
E, no
entanto, ninguém protestou ou sequer deu sinais de ouvir e perceber o que
diziam deles. Há uma decência básica, ainda comum recentemente, que se perdeu.
Um político de uma certa envergadura não se importa que lhe atribuam infâmias
de vária espécie e género e nem sequer se dá ao excessivo trabalho de as negar.
Faz parte do ofício; e parece que tomar um partido de assalto para exclusivo
bem da sua vida e da sua bolsa não passa da ambição normal de qualquer
português. A “limpeza” privada e a idoneidade pública de cada um não sofre com
a eventual verdade da sua reputação ou com o insulto, a injúria e até a calúnia
que diariamente se despejam sobre eles. Os putativos factos revelados por
Capucho, Pacheco e pelo dr. Soares não comovem a opinião.
O que mais me
intriga, apesar do resto, é a geral atitude de apatia do jornalismo
profissional. Não só não acha a “oligarquia” ou a “fracção”, de que Capucho e
Pacheco se queixaram, digna de investigação e de comentário, mas não lhes
repugna aceitar em silêncio o que os “notáveis” lhes metem pela goela abaixo.
Ora este assunto não deve ser tomado como uma opinião trivial a propósito de
uma querela partidária, pela simples razão de que afecta o regime inteiro. Como
as diatribes do dr. Soares contra a honestidade dos jornalistas não devem ser
atribuídas à notória irritação da personagem. Claro que, se Portugal considera
normal que pequenos grupos se instalem na direcção de um grande partido, com
dinheiros de origem obscura, e concorda que os jornalistas são uma cambada de
mercenários, o caso muda de figura. O melhor é fugir.
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