terça-feira, 2 de dezembro de 2014

A propósito do futuro da edição, uma velha piada

Diz a lenda que a NASA gastou milhões em investigação para tentar criar uma caneta que não derramasse tinta sob gravidade zero e pudesse escrever durante bastante tempo. Debalde.
Os russos gastaram onze cêntimos a encontrar a solução. Chama-se lápis.

Da mesma forma, as soluções geniais podem ser mais simples e baratas do que julgamos. Quer em termos de produção quer em termos de promoção. Por exemplo, em Portugal (é um facto) as pequenas editoras descobriram as virtualidades da net bem antes das pesadas grandes editoras, que tardaram e tardaram. (Mas, claro, quando chegaram fizeram-no com a devida pompa e circunstância. Na natureza também é assim: por vezes caçamos a presa e comemos o que podemos antes de chegarem, preguiçosos e parasitários, os animais de grande porte.) 

quinta-feira, 19 de junho de 2014

É possível sonhar?

Um belo artigo que me chegou via o twitter do homem que, em Portugal, mais e melhor pensa a edição: José Afonso Furtado. 

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Aula de 16 adiada para 17

À vossa atenção:
por motivos pátrios, a aula com CARLOS DA VEIGA FERREIRA de segunda 16 será terça 17, à mesma hora - mesmo local (em princípio, vou confirmar). 

Da tradução e outras questões editoriais

Já te disse o primeiro draft do Anibaleitor está quase acabado.11:58 AM
E a editora iniversitária uma antologia dos teus contos em bengali.
Rui Zink
Ontem enviei-te as respostas às tuas dúvidas. Viste?
Rita 
Sim, mas falta uma - lanço bocas.
Rui Zink
Dizer coisas sem substância.
Rita 
OK.
Rui Zink
O narrador desvaloriza o peso do que diz.
Rita 
A Rimi, que é a joint director da JU Press vai te escrever sobre a antologia.
Rui Zink
«É importante estudar»,
«a literatura salva»
etc.
Bocas - coisas ditas que não são nem verdade nem mentira.
Rita 
Já tinha uma ideia e já traduzi mas queria saber exactamente o que diz a expressão.
Rui Zink
É sempre bom. Dás-me segurança e confiança no resultado em bangla ao perguntares.
A doença infantil do tradutor é ter vergonha de fazer «perguntas tontas».
A vergonha é a inimiga de quem quer fazer um bom trabalho.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

E de repente

Herberto Helder com novo livro, mas na Porto Editora e com acompanhamento especial - um cd com poemas lidos por si.
Será 2014 o ano da Porto Editora?

http://www.publico.pt/cultura/noticia/herberto-helder-publica-a-morte-sem-mestre-1638439

domingo, 1 de junho de 2014

Exercício Ficha de leitura

Não pense em «ficha de leitura», pense em: opinião sobre original.
Pegue num livro real, publicado, de que gostou/não gostou e proponha-o ao seu coordenador editorial para publicação, como se fosse um «original» ou um livro ainda inédito em Portugal.

Quais os pontos fortes? Quais os fracos? A que público se destina? Por que merece ser publicado? Qual a perspectiva de vendas? Custos/benefícios?

Lembre-se: pode haver lucro financeiro mas prejuízo moral. Ou seja: o lucro pode trazer prejuízo. Por exemplo: publicar um manifesto infame (suponhamos: um livro de um dirigente racista) ou um texto oportunista sobre sexo, ou um manual sobre como fazer bombas caseiras. Por vezes enquadra-se na lógica/imagem da editora, outras não.

Se tem dúvidas, faça a sua lista de compras.

E adianto já uma pergunta para o pequeno teste de dia 9: quais os elementos fundamentais num contrato?



Guthrie, R., Publishing

Guthrie, Richard (2011), Publishing, Londres, Sage







quinta-feira, 29 de maio de 2014

Freelance e editing




Alguns problemas frequentes

1. Overdoses:
- «mas»
- pronomes possessivos redundantes
- repetição do mesmo verbo
- bengalas tipo «de facto», «com efeito», «assim»
- casais-cliché: «silêncio embaraçoso», «momento solene»

2. Hipercorrecção
- contracto
- eu acho de que

3. Acentuação




terça-feira, 27 de maio de 2014

Tedi141

Tedi141http://ocorvo.pt/2014/05/27/a-finlandesa-dos-paperbacks-em-segunda-mao-esta-na-avenida-luis-bivar/

sábado, 17 de maio de 2014

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Um anúncio via mail (marketing artesanal)

olá a todos,
estão convidados para o lançamento do novo livro do Miguel Cardoso,
FRUTA FEIA (edição Douda Correria), este Sábado, 17 de Maio, às 19h
no Jardim do Príncipe Real, por baixo da árvore centenária.
O livro será lido em voz alta pelo próprio autor e por Margarida Ferra,
Nuno Moura, Miguel Castro Caldas, Fernando Ramalho, Golgona Anghel e
Raquel Nobre Guerra.
Até lá um abraço doudo,
Joana Bagulho e Nuno Moura
Douda Correria

Segunda-feira não há aula

Caros alunos, segunda 19 não há aula de Edição de Texto.
Motivo: integro um júri de doutoramento no Porto e não encontrei quem me pudesse substituir nem consigo regressar a tempo.
A aula será posteriormente compensada. Peço que informem os colegas que puderem. 

quarta-feira, 14 de maio de 2014

sábado, 10 de maio de 2014

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Masterclass: Ana Pereirinha dia 12

Confirma-se: a nossa segunda convidada será Ana Pereirinha, editora de autores nacionais na Planeta. Frontal, inteligente, prática, experiente, a Ana Pereirinha é uma das pessoas cuja visão do mundo editorial e do que é faze livros mais respeito.
Preparem perguntas, sfff. Por exemplo: «O que se faz quando se faz tratamento de texto?» «É mesmo preciso fazer uma ficha de leitura?» Etc.


terça-feira, 6 de maio de 2014

Aula de segunda 5 de Maio

1. Dos contratos
1.1. Os termos principais
1.2. Da boa fé do «primeiro outorgante»
1.3. Prevenir o conflito não é desejar o conflito, antes pelo contrário.
1.4. A tortura mazinha: obrigar uma parte a palmilhar quilómetros para ir a um julgamento que, depois, é adiado - o nosso adversário pode até ganhar o processo, mas aquele frete (e eventuais despesas) já ninguém lhe tira.
2. Máquina oleada vs. imprevistos/improviso
3. Exercício: editar um texto
3.1. O caso concreto: sem interferir muito, a primeira página de um romance a ser publicado em breve por uma editora respeitável.
3.2. Cuidado: rimas involuntárias, profusão de «mas», «que é ques», pronomes possessivos, pontuação que, não sendo incorrecta, retarda a leitura.
3.3. O que é mais importante: o contar ou o contado?
3.4. Texto comunicativo vs. texto estético.
4. Broadway Danny Rose, a personagem principal do filme homónimo de Woody Allen: o paradigma cómico do agente literário, do intermediário, do editor-amigo-dos-autores, da difícil arte de dançar por entre os caprichosos, justa ou injustamente ressentidos/carentes/queixosos clientes ou parceiros de jogo.  

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Não parece mas é uma aula de comunicação/edição

Ferreira Fernandes: Quando noticiar é um circo
Título parvo: "Monstro procurado em Coimbra." E converseta de telenovela: "Caça ao homem!" Só faltou fotografá-lo a dizer "Baltazar, Manuel Baltazar" soprando o fumo dos zagalotes. Ele tem nome que caberia em "Baltazar procurado em Coimbra" e saber-se-ia quem é. O tipo que fuzilou ex-sogra, ex-tia, ex-mulher e filha, que só não é ex-filha porque ele falhou o tiro. Preferiram o circo. Mas o problema com ele não é ser "o monstro". E quanto à teatral "caça ao homem!" é ver ao contrário: o drama é tanto "homem à caça" quando a visada é a mulher. Ao emprestarem a Baltazar a categoria de "monstro" os jornais não entenderam que o problema não é anomalia mas a normalidade. Mais uma vez o erro que tantas vezes trago aqui: "de que estamos a falar quando estamos a falar?" é a menor das interrogações dos jornais nacionais. No caso, é não entender nem as notícias que tão repetidamente trazem. Acontecidas entre pobres e ricos. Há anos, contei a história dum médico, reputado, com tabuleta no centro do Porto e dirigente político, que sequestrava a mulher. Sequestro provado, com denúncia da vítima, família e vizinhos. O médico processou-me - com este argumento: "meteu-se entre marido e mulher" (sic) - e o Ministério Público achou que era coisa com pernas para andar até ao tribunal. Valeu-me, talvez, ser uma juíza a julgar, menos cega à guerra civil que nos cerca. Chamar "monstro" ao Baltazar é pôr espetáculo numa indecente doença nacional.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Peter Cooper - masterclass 2ª 28

Confirmado. Segunda-feira teremos um convidado de luxo (são todos, mas este fala inglês).
Peter Cooper nasceu ns Estados Unidos e é actualmente Business Development Director na [PIAS] Iberia & Latin America e dirige a edlp Marketing. Entre outras coisas, foi Promo and Marketing Manager no grupo Movieplay, Product Manager na Roadrunner Records.
Fluente em português, Peter Cooper talvez prefira - se todos entenderem - falar em inglês. É uma oportunidade para falarem com alguém com experiência real, desde há mais de duas décadas, em produção, comunicação, gestão e marketing.
É a segunda vez que visita o nosso mestrado.
Um pormenor: gosta de correr ultramaratonas e, por isso, já publicou em Portugal três livros da lenda viva Dean Karnazes.






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    quarta-feira, 23 de abril de 2014

    O livreiro: Antero Braga

    Público, 23/4
    Livreiro há 46 anos, Antero Braga, da Livraria Lello, continua a acreditar no papel da leitura na formação de cidadãos conscientes e críticos. E diz que “a liberdade e a cultura são indispensáveis para que se seja feliz”. Hoje é Dia do Livro.
    No V Encontro Livreiro, realizado no final de Março, Antero Braga recebeu o diploma Livreiro da Esperança. Uma distinção anualmente atribuída a um “vendedor de livros” feliz por o ser. “São 46 anos de uma actividade que me deu mais do que eu lhe dei. Fez-me aprender a ser uma pessoa diferente. A ser solidário. Eu tenho de estar grato ao meu destino. Era para ser um homem de números, mas tornei-me livreiro e não estou nada arrependido”, disse às “gentes do livro” presentes no encontro, na Livraria Culsete, em Setúbal.
    Responsável por uma das mais belas livrarias do mundo, a Livraria Lello, no Porto, Antero Braga gosta de citar Armando Martins, “que nasceu na Clássica Editora e mais tarde foi gerente da Bertrand do Chiado”. Dizia ele, sorridente, quando lhe perguntavam se achava que determinado livro era uma boa oferta: “Isto é um livro, minha senhora. Isto é uma taça de champanhe!”
    Recorda os primeiros tempos de actividade: “Quando comecei a trabalhar nos livros, éramos obrigados a ler as coisas, a saber quem eram os autores, para não dizermos asneiras. Para tentarmos cativar mais leitores, mais gente para os livros.” Essa continua a ser a função de um livreiro? “O papel do livreiro será o de manter a chama acesa para que os mais novos conheçam o legado que lhes deixaram os que amaram e amam o seu Portugal.” E acrescenta: “Um país faz-se com homens e livros. O resto é treta.”
    Antero Braga convoca os seus pares: “Nós, os livreiros, os que amamos os livros, vamos lá. Tudo é possível, quando de facto queremos.” Deixa também alguns conselhos: “Pensem no seguinte: qual o papel do livreiro? Qual o papel das unidades que por acaso vendem livros? Qual o papel de possíveis cartéis que podem estar em preparação? O que pode fazer o livreiro em conjunto com as pequenas e médias editoras, em conjunto com todos os que amam os livros: os autores, os editores, os directores editoriais e os proprietários, cujos interesses são diferentes uns dos outros? Podemos e devemos reflectir e unir esforços.”
    Regresso à qualidade
    Os encontros entre “as gentes do livro”, expressão muito grata a Manuel Medeiros, “O Livreiro Velho”, que primeiro os imaginou e organizou, são “muito importantes”, diz ao PÚBLICO Antero Braga:
    “As livrarias atravessam há mais de 20 anos problemas graves. Eu estive nos três lados do mundo dos livros, só não conheço bem as gráficas. Sei muito bem o que é uma editora, o que é uma distribuidora e sei muito bem o que é uma livraria. Quando fui administrador da Bertrand, tudo isso me passava pelos olhos e pela decisão. Isto para dizer que sei muito bem qual é o papel de qualquer um destes elementos, onde existem até algumas acções contraditórias.”
    A dificuldade está então na compatibilização dos vários interesses. “Aquilo que mais me assusta é a possível colonização cultural que pode acontecer em Portugal se existirem cartéis. E eles podem estar em grande formação e em grande aceleramento. Estas reuniões são importantes, quanto mais não seja para um alerta do papel do livreiro, que não pode ser só e apenas um agente cultural, mas também, obviamente, um gestor.” Por isso lhes diz: “Reflictam, não tenham medo, acreditem que vale a pena ser livreiro.”
    Divertido, acrescenta ainda: “Vejam bem, como diria o Zeca Afonso, faço o que gosto e ainda me pagam.” E despede-se assim, antes de rumar a norte: “Viva a cultura, viva os livros e não se esqueçam de que a liberdade e a cultura são coisas indispensáveis para que se seja feliz.”

    segunda-feira, 21 de abril de 2014

    Exercícios facultativos

    Meus caros, passadas as férias, aqui ficam alguns exercícios para quem quiser fazer. Em princípio Peter Cooper será o nosso convidado na próxima 2ª 28. Depois confirmarei.
    Lembro que estes ou outros exercícios podem ser inventados em casa, bastando duas pessoas envolvidas, ou nem isso.

    Teoria: estes exercícios dão calo, ajudam-nos a interiorizar estilos, técnicas e a confiar na nossa intuição. Como foi dito em aula, a intuição é, neste caso, experiência e técnica tornadas «segunda natureza». Depois de muito pensar, aprender a agir sem pensar, ou melhor, a agirpensar.
    O objectivo é usarmos a nossa técnica e o nosso saber adquirido como um polvo move o seu tentáculo, com fluidez, e não como um braço mecânico. Nós não apercebemos de que damos ordens ao nosso cérebro para ele dar ordens à nossa mão para que esta agarre um garfo, pois não? Pois também não temos de ir sempre ao manual para escolher um melhor título, uma melhor frase, para sugerir uma alternativa. Embora devamos sempre saber onde ir buscar a informação que falta, ou a que prateleira o instrumento adequado.
    Nota: Estes exercícios são bastante simples. Se acertarem não fiquem auto-confiantes, subam a parada. Se falharem, não se preocupem, tentem de novo. Boa semana.

    1) Tente melhorar (sem alterar quase nada) esta frase:
    «Lisboa acordou nos braços de um dia pardo, sensaborão, daqueles que não deixam memória nenhuma.

    Sentia uma ligeira indisposição. Lembrou-se do feijão que comera na casa de pasto do Aurélio, benfiquista de todos os costados, de tão grande simpatia que a comida estava autorizada a não condizer.»

    2) Insira a pontuação: 
    O meu amigo fora claro: o seu prédio ficava entre a igreja e a livraria cedinho nessa manhã de páscoa ali estava eu totalmente perdido apesar das indicações ele dissera que não havia nada que enganar porque a grande cruz no cimo da torre se via à distância além disso eu visitara-o há uns anos e esperava reconhecer o local apesar disto não fazia a menor ideia onde me devia dirigir estava totalmente perdido
    A razão da desorientação era fácil de explicar as referências eram evidentes e o sítio não tinha nada que enganar só que naquela vila neste estranho mês de abril a páscoa amanhecera sob uma espessa capa de nevoeiro à minha frente poderia estar uma igreja um descampado ou um exército pronto a atacar 
    (Ver correcção aqui.)

    3) Prova cega: ligue textos a autores. 
    A) Saramago; B) Lobo Antunes;  C) Agustina Bessa-Luís;  D) Rubem Fonseca;   E) Jorge Amado;    F) Garcia Marquez;    G) Raymond Chandler  

    1) "Um único minuto de reconciliação vale mais do que toda uma vida de amizade." (...) "Ele ainda era demasiado jovem para saber que a memória do coração elimina as coisas más e amplia as coisas boas, e que graças a esse artifício conseguimos suportar o peso do passado."
    2) “O chefão da Secção de Homicídios, nesse ano, era um tal capitão Gregorius, um tipo de polícia que vai rareando mas que ainda não se extinguiu, o género que desvenda os crimes com as luzes fortes e a bofetada e o pontapé nos rins, e o joelho no baixo ventre e o punho no plexo solar e o “casse-tête” na base da espinha. Seis meses depois de tudo isto ele foi condenado por declarações falsas, engaiolado sem ser julgado e mais tarde morreu com um coice de um cavalo numa quinta que tinha em Wyoming.”
    3) "Tinha muitas idéias na cabeça, e isso me atrapalhava. Os melhores conferencistas são aqueles de uma única idéia. Os melhores professores, os que sabem pouco." (...) "Tenho ginásio, sei ler, escrever e fazer raiz quadrada. Chuto a macumba que quiser. "
    4) "A Fernanda senta-se atrás no Seat Ibiza, com o menino e a Dona Cinda, o senhor Borges ocupa o lugar ao meu lado, de Record no sovaco, fato completo, gravata de flores prateadas e chapéu tirolês, ajuda-me no estacionamento das Amoreiras a tirar o carrinho da mala e todos os automóveis do parque são Seat Ibiza, todos têm mantas alentejanas nos bancos, todos apresentam um autocolante no vidro que diz Não Me Siga Que Eu Ando Perdido (...)"
    5) "Logo que um novato entrava para os Capitães da Areia formava logo uma idéia ruim de Sem-Pernas. Porque ele logo botava um apelido, ria de um gesto, de uma frase do novato.Ridicularizava tudo era dos que mais brigavam.Tinha mesmo uma fama de malvado.Muitos do grupo não gostavam dele, mas aqueles que passavam por cima de tudo e se faziam seus amigos diziam que ele era um "sujeito bom"."
    6) "No quarto ao lado dormiam cansados os amantes, nos braços um do outro, maravilha que infelizmente não pode durar sempre, e é natural, um corpo é este corpo e não aquele, um corpo tem um princípio e um fim, começa na pele e acaba nela, o que está dentro pertence-lhe, mas precisa de sossego, independência, autonomia de funcionamento, dormir abraçados exige uma harmonia de encaixes que o sono de cada um desajusta, acorda-se com o braço dormente, um cotovelo fincado nas costelas, e então dizemos baixinho, reunindo toda a ternura possível, Meu amor chega-te para lá."
    7) "Eis Germa, que, embalando-se na velha rocking-chair, pensa e pressente, sabendo-se actual relicário desse terrível, extenuante legado de aspiração humana. Nas suas veias, estão todos os infinitos estados do passado, no seu cérebro condensaram-se muitas e muitas experiências que não viveu, as negações e afirmações ocupam vastos espaços da sua alma. Ela move-se ritmicamente baloiçando-se naquela sala onde se recolhem em pilhas as maçãs; todo o ar rescende a maçã que suga da própria pele a frescura e dela dessangra o suco que acrescentará a reserva da polpa viva, ainda por todo o Inverno."

    Novo dicionário

    A Isabel Pinela viu isto

    sexta-feira, 11 de abril de 2014

    Telefonioteca

    Uma cabine telefónica transformada em biblioteca pública. Ler aqui.

    Teaser

    Autores há com os quais é mais fácil ir criando expectativas. Aqui, Miguel Esteves Cardoso.

    Ou seja, o produto determina (em parte) não só o seu modo de produção mas também o seu modo de promoção

    terça-feira, 8 de abril de 2014

    Exemplo de parceria produtiva...

    ... um dos temas que tem sido abordado nas últimas aulas. Neste caso, entre a Pato Lógico e a Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

    A ler aqui e aqui.

    Já agora, o lançamento da colecção tem lugar na livraria Ler Devagar, dia 12 de Abril, às 16h00.

    segunda-feira, 7 de abril de 2014

    Exercício tradução corrigido - José Sequeira

    Bukovski/Carver em português

    Trad. Júlia Becker: 
    Não Sabem O Que É O Amor
    (uma noite com Charles Bukowski) de Ramond Carver

    Vocês não sabem o que é o amor disse Bukowski
    Tou com 51 anos e olhem para mim
    Estou apaixonado por esta miúda
    Bateu-me forte mas ela também está apanhada
    Por isso é na boa pulhas é assim que acontece
    Eu entro no sangue delas e ficam tramadas
    Elas tentam tudo para fugir de mim
    Mas voltam todas no fim excepto
    Aquela que eu plantei
    Eu chorei por ela
    Mas chorei 
    Não me deixem cair nisto pá
    Eu fico doido
    Eu posso sentar-me aqui e beber cerveja
    com vocês hippies a noite inteira
    Poderia beber dez canecos de cerveja
    E nada É como a água
    Mas deixem-me entrar nesta cena má
    E eu começo a lançar pessoas pela janela fora
    Eu atiro qualquer um pela janela
    Já o fiz
    Mas vocês não sabem o que é o amor
    Vocês não sabem porque vocês nunca
    Estiveram apaixonados, tão simples quanto isto
    Eu tenho esta miúda vejam ela é linda
    Ela chama-me Bukowski
    Bukowski diz ela com aquela vozinha
    E eu digo O Quê
    Mas vocês não sabem o que é o amor
    Eu estou-vos a dizer como é que é
    Mas vocês não me estão a ligar
    Não há um único de vocês aqui nesta sala
    Que seja capaz de reconhecer o amor mesmo que metessem um pé em cima
    E que ele entrasse pelo cu
    Eu pensava que leituras de poemas eram uma seca
    Olhem, eu tou com 51 anos e ando por aqui
    Eu sei que são uma seca
    Mas eu disse a mim mesmo Bukowski
    Passar fome é ainda mais seca
    Por isso aqui estás tu e nada é como tu pensas
    Aquele rapaz qual é o nome dele Galway Kinnel
    Eu vi uma foto dele numa revista
    Ele tem uma fronha jeitosa ao lado dele
    Mas ele é um professor
    Jesus conseguem imaginar
    Mas vocês também são professores
    Aqui estou eu a insultar-vos novamente
    Não eu nunca ouvi falar dele
    Nem ele
    São todos térmitas
    Talvez seja ego eu não leio muito actualmente
    Mas estas pessoas que constroem
    Reputações em cima de cinco ou seis livros
    Térmites
    Bukowski diz ela
    Porque é que ouves música clássica o dia todo
    Não a ouvem a dizer isso
    Bukowski porque é que tu ouves música clássica o dia todo
    Isto surpreende-vos não é
    Tu pensas mesmo que um cabrão bronco como eu
    Ia ouvir música clássica o dia todo
    Brahms Rachamanioff Bartok Telemann
    Merda eu não consigo escrever aqui
    Muito sossegado muitas árvores
    Eu gosto da cidade é aí que eu me sinto bem
    Eu ponho a dar a minha música clássica de manhã 
    Sento-me à máquina de escrever
    Acendo um cigarro e fumo-o gosto disso sabem
    E eu disse Bukowski tu és um homem sortudo
    Bukowski tu já passaste por tudo
    e és um homem sortudo
    e o fumo azul envolve a mesa
    e eu olho pela janela para a Delongore Avenue
    e eu vejo pessoas a andar pelo passeio
    e eu mando um bafo no cigarro assim
    e depois eu pouso o cigarro no cinzeiro e respiro fundo
    e começo a escrever
    Bukowski isto é a vida digo eu
    é bom ser pobre é bom ter hemorródias
    é bom estar apaixonado
    Mas vocês não sabem o que é
    Vocês não sabem o que é estar apaixonado
    Se vocês a vissem vocês sabiam o que é que eu tou a falar
    Ela pensava que eu chegava aqui e ia mandar uma
    Ela apenas sabia
    Ela disse me que sabia
    Merda tenho 51 anos e ela 25
    E estamos apaixonados e ela tem ciúmes
    Jesus é adorável
    Ela disse que me arrancava os olhos se eu chegasse aqui e fosse mandar uma
    Isto é que é amor pelo próximo
    O que é que algum de vocês sabe disto
    Deixem-me dizer-vos uma coisa
    Eu conheci gajos na prisão que tinham mais estilo
    A malta que anda com colegas e vão a leituras de poemas
    São umas sanguessugas que vão ver se o poeta tem as meias cagadas
    Ou se cheira a sovaco
    Acreditem em mim eu não vos vou desiludir
    Mas eu quero que se lembrem disto
    Só há um poeta nesta terra esta noite
    Talvez o único poeta a sério neste país esta noite e esse tá aqui
    O que é algum de vocês sabe sobre a vida
    Qual de vocês aqui já foi despedido
    Ou deu porrada na vossa namorada
    Ou já levou porrada da vossa namorada
    Eu fui despedido do Sears and Roebuck 5 vezes
    Eles despediram-me e contrataram-me novamente
    Eu trabalhei na logística deles quando tinha 35
    E prenderam-me por roubar bolachas
    Eu sei como é eu tive lá
    Eu tenho 51 anos agora e tou apaixonado
    Esta pequena diz-me
    Bukowski
    E eu digo O quê e ela diz
    Eu acho que tu és um bazófias
    E deu digo querida tu compreendes-me
    Ela é a única gaja no mundo
    Homem ou mulher
    Eu quero disso, sim
    Mas vocês não sabem o que é o amor
    Elas voltam para mim no fim
    Todas elas voltam
    Excepto aquela que vos contei
    Aquela que eu plantei
    Estivemos juntos durante 7 anos
    Costumávamos beber muito
    Eu vejo uns quantos teclografistas nesta sala mas 
    Não vejo nenhum poeta
    Não me surpreende
    Vocês têm que estar apaixonados para escrever poemas
    E vocês não sabem o que é estar apaixonado
    Esse é o vosso problema
    Dá-me um bocado disso
    É isso sem gelo é que é bom
    Isso é bom isso é mesmo porreiro
    Bem vamos lá por isto a andar
    Eu sei o que disse mas vou tomar mandar um puxo
    Isto sabe bem
    Ok então vamos lá acabar com isto
    Só depois não fiquem muito perto
    De uma janela aberta

    segunda-feira, 31 de março de 2014

    1 de Abril - A propósito do número de páginas

    Porto Editora e Grupo Leya chegam a acordo para impor limite de páginas a escritores. Ler aqui.

    sexta-feira, 28 de março de 2014

    QUEM NÃO FOR CHUMBA

    Amanhã, sábado 29, às 15h na FNAC Chiado, é lançado o livro da turma anterior à vossa: HOJE À EDITORAS. (Sim, com o verbo a ver)
    Será interessante - e simpático - irem.



    quarta-feira, 26 de março de 2014

    Escrita criativa: treta ou?

    Obviamente, esta pergunta pode aplicar-se a um sem número de coisas académicas e não só. O docente é mau, os discentes são maus, a disciplina é vácua, a instituição funciona/não funciona e serve/não serve os propósitos que se atribui? (Etc.) O Hanif Kureishi estaria num dia de maus fígados (acontece aos melhores) mas a discussão é muito interessante e «caliente» e o artigo muito bem apresentado. Ler aqui.
    "To say that creative writing courses are all useless is almost as silly as saying all editors are useless. Writers, of all levels, can benefit from other instructive voices,"

    segunda-feira, 24 de março de 2014

    Bukovski/Carver em português

    Trad. Júlia Becker: 
    Não Sabem O Que É O Amor
    (uma noite com Charles Bukowski) de Ramond Carver

    Não sabem o que é o amor disse Bukowski
    Tenho 51 anos olhem para mim
    Estou apaixonado por esta miúda
    Bateu-me forte mas ela também está obcecada
    portanto está tudo bem meu é assim que tem que ser
    Entro no sangue delas e não me conseguem tirar
    Tentam tudo para fugir de mim
    mas no fim voltam sempre
    Todas voltam sempre exceto
    aquela que plantei
    Chorei por ela
    mas chorei facilmente nesses dias
    Não me deixes dar na cena pesada meu
    Fico bruto
    Poderia estar sentado aqui a beber cerveja
    com vocês hippies a noite inteira
    Poderia beber dez litros desta cerveja
    e nada é como água
    Mas deixa me dar na cena pesada
    e vou começar a atirar pessoas pela janela
    Vou atirar qualquer pessoa pela janela
    Já o fiz
    Mas não sabem o que é amor
    Não sabem porque nunca
    estiveram apaixonados é assim tão simples
    Arranjei esta miúda vêem ela é bem gira
    Ela chama-me Bukowski
    Bukowski diz ela nesta vozinha
    e eu digo O que
    Mas não sabem o que é amor
    Estou vos a dizer o que é
    mas não me ouvem
    Nenhum de vocês nesta sala
    reconheceria o amor se aparecesse
    e estivesse mesmo a vossa frente
    Sempre pensei que ler poesia era uma fuga
    Olhem tenho 51 anos e estive por cá
    Sei que é uma fuga
    Mas disse para mim próprio Bukowski
    Morrer de fome ainda mais é uma fuga
    Então aí estás e nada é como devia ser
    Esse colega qual é o nome dele Galway Kinnell
    Vi a fotografia dele numa revista
    Tem uma aparência bonita
    mas é professor
    Cristo conseguem imaginar
    Mas vocês também são professores
    Aqui estou a vos insultar já
    Não nunca ouvi falar dele
    nem do outro
    São todos térmitas
    Talvez seja ego já não leio muito
    mas essas pessoas que constróem
    reputações com cinco ou seis livros
    térmitas
    Bukowski diz ela
    Porque escutas música clássica o dia inteiro
    Não conseguem ouvi-la dizer isso
    Bukowski porque escutas música clássica o dia inteiro
    Isso surpreende-te não surpreende
    Não pensavas que um bastardo mal-educado como eu
    pudesse ouvir música clássica o dia inteiro
    Brahms Rachmaninoff Bartok Telemann
    Merda não consegui escrever aqui
    Demasiado silencioso por aqui demasiadas árvores
    Gosto da cidade esse é o lugar para mim
    Ponho a minha música clássica todas as manhãs
    e sento-me em frente da minha máquina de escrever
    Acendo um charuto e fumo-o assim olha
    e digo Bukowski és um homem de sorte
    Bukowski passaste por isso tudo
    e és um homem de sorte
    e o fumo azul flutua para além da mesa
    e olho pela janela para a Avenida de Delongpre
    e vejo pessoas subindo e descendo o passeio
    e fumo o charuto assim
    e depois ponho o charuto no cinzeiro e respiro fundo
    e começo a escrever
    Bukowski isto é a vida digo eu
    é bom ser pobre é bom ter hemorróides
    é bom estar apaxionado
    Mas não sabem como é
    Não sabem como é estar apaixonado
    Se a pudessem ver percebiam do que estou a falar
    Ela pensou que viesse cá acima e fizessemos sexo
    Ela simplesmente sabia
    Ela disse me que sabia
    Merda tenho 51 anos e ela tem 25
    e estamos apaixonados e ela tem ciúmes
    Jesus é lindo
    ela disse que me arrancaria os olhos se eu viesse cá acima
    e fizessemos sexo
    Agora isso é amor para ti
    O que é que vocês sabem sobre isso
    Deixem-me dizer-vos uma coisa
    Encontrei homens na prisão que tinham mais estilo
    do que as pessoas que estão à volta dos colégios
    e vão a recitais de poesia
    São sanguessugas que vêm ver
    se as meias do poeta estão sujas
    ou se cheira mal dos sovacos
    Acreditem-me que eu não os vou decepcionar
    Mas eu quero que vocês se lembrem disto
    há apenas um poeta nesta sala esta noite
    apenas um poeta nesta cidade esta noite
    talvez apenas um poeta verdadeiro neste país esta noite
    e esse sou eu
    O que é que vocês sabem sobre a vida
    O que é que vocês sabem sobre qualquer coisa
    Quem de vocês já foi despedido de um emprego
    ou espancou a companheira
    ou foi espancado pela companheira
    Eu fui despedido do Sears and Roebuck cinco vezes
    Despediram-me e voltaram-me a contratar
    Eu era armazenista para eles aos 35 anos
    e depois fui despedido por roubar bolachas
    Eu sei como é que é já lá estive
    Tenho 51 anos e agora estou apaixonado
    Esta pequena miúda ela diz
    Bukowski
    e eu digo O que e ela diz
    Acho que estás cheio de merda
    e eu digo bébé tu compreendes-me
    Ela é a única companheira no mundo
    seja homem ou mulher
    Eu aceitaria isso
    Mas não sabem o que é o amor
    Todas elas voltaram no fim também
    cada uma voltou
    exceto aquela de que eu vos falei
    aquela que plantei Estivemos juntos durante sete anos
    Costumávamos beber muito
    Eu vejo uma série de escritores nesta sala mas
    Não vejo nenhum poeta
    Não estou surpreendido
    Têm de ter estado apaixonado para escrever poesia
    e não sabem o que é estar apaixonado
    isso é problema vosso
    Dá-me um pouco dessa cena
    Está certo sem gelo
    Está bom assim é que é
    Então vamos pôr este espetáculo de pé
    Eu sei o que eu disse mas quero só uma
    Essa sabe bem
    Está bem vamos lá acabar com isto
    mas depois ninguém se ponha ao pé
    de uma janela aberta


    Trad. José Siqueira:
    Tu não sabes o que o amor é disse Bukowski
    Eu tenho 51 anos e olha para mim
    Estou apaixonado por esta rapariga nova
    Bateu-me forte mas ela também está apanhada
    Por isso é na boa pá é assim que deve ser
    Eu entro no sangue delas e elas não conseguem sacudir-me
    Elas tentam tudo para fugir de mim
    Mas voltam todas no fim excepto
    Aquela que eu lancei
    Eu chorei por essa
    Mas chorei fácil nesses dias
    Não me deixes cair nessa cena má meu
    Eu fico fulo
    Eu posso sentar-me aqui e beber cerveja
    E nada é como água
    Mas deixa-me entrar nessa cena má
    E eu começo a lançar malta pela janela fora
    Eu atiro qualquer um pela janela
    Já o fiz
    Mas vocês não sabem o que o amor é
    Vocês não sabem porque vocês nunca
    Estiveram apaixonados, tão simples como isso
    Eu tenho esta rapariga nova vê ela é linda
    Ela chama-me Bukowski
    Bukowski diz ela com nesta voz pequenina
    E eu digo Quê
    Mas vocês não sabem o que amor é
    Eu tou te a dizer o que é
    Mas vocês não me estão a ouvir
    Não há um único de vocês nesta sala
    Que era capaz de reconhecer amor mesmo que o pisassem
    E vos enfiassem-no no cu
    Eu pensava que recitais eram uma seca
    Olha, eu tenho 51 anos e ando por aqui
    Eu sei que são uma seca
    Mas eu disse a mim mesmo Bukowski
    Passar fome é ainda mais seca
    Por isso aqui estás tu e nada é como devia ser
    Aquele rapaz qual é o nome dele Galway Kinnel
    Eu vi uma foto dele numa revista
    Ele tem uma fronha jeitosaao pé dele
    Mas ele é um professor
    Cristo consegues imaginar
    Mas tu também és professor
    Aqui estou eu a insultar-te novamente
    Não eu nunca ouvi falar dele
    Nem ele
    São todos térmitas
    Talvez seja ego eu não leio muito actualmente
    Mas estas pessoas w! quem construiu
    Reputações em cima de 5 ou sei livros
    Térmites
    Bukowski diz ela
    Porque é que ouves música clássica o dia todo
    Não a ouves a dizer isso
    Bukowski porque é que tu ouves música clássica o dia todo
    Isso surpreende-te não é
    Tu pensas mesmo que um cabrão bronco como eu
    Poderia ouvir música clássica o dia todo
    Brahms Rachamanioff Bartok Telemann
    Merda não consigo escrever aqui
    Demasiado sossegado aqui demasiadas árvores
    Eu gosto da cidade esse é o lugar para mim
    Eu ponho a dar a minha música clássica cada manhã
    e sento-me em frente da máquina de escrever
    Acendo um cigarro e fumo-o gosto disso sabes
    E eu disse Bukowski tu és um homem sortudo
    Bukowski tu já passaste por tudo
    e és um homem sortudo
    e o fumo azul envolve a mesa
    e eu olho pela janela para a Delongore Avenue
    e eu vejo pessoas a andar pelo passeio
    e eu mando um bafo no cigarro assim
    e depois eu pouso o cigarro no cinzeiro assim e respiro fundo
    e começo a escrever
    Bukowski isto é a vida digo eu
    é bom ser pobre é bom ter hemorródias
    é bom estar apaixonado
    Mas tu não sabes como é
    Tu não sabes o que é estar apaixonado
    Se tu a visses tu sabias do que é que eu quero dizer
    Ela pensava que eu chegava aqui e ia mandar uma
    Ela apenas sabia
    Ela disse me que sabia
    Merda tenho 51 anos e ela 25
    E estamos apaixonados e ela tem ciúmes
    Jesus é adorável
    Ela disse ela arrancava-me os olhos se eu chegasse aqui e fosse mandar uma
    Isso é que é amor por ti
    O que é que algum de vocês sabe sobre isso
    Deixem-me dizer-vos uma coisa
    Eu conheci gajos na prisão que tinham mais estilo
    Que malta que anda com colegas e vão a recitais
    São umas sanguessugas que vão ver se o poeta tem as meias cagadas
    Ou se cheira a sovaco
    Acredita em mim eu não os vou desiludir
    Mas eu quero que se lembrem disto
    Só há um poeta nesta terra esta noite
    Talvez o único poeta a sério neste país esta noite e esse sou eu
    O que é algum de vocês sabe sobre a vida
    Qual de vocês aqui já foi despedido
    Ou deu porrada na vossa namorada
    Ou já levou porrada da vossa namorada
    Eu fui despedido do Sears and Roebuck 5 vezes
    Eles despediram-me e contrataram-me novamente
    Eu trabalhei na logística para eles quando tinha 35
    E prenderam-me por roubar bolachas
    Eu sei como é eu tive lá
    Eu tenho 51 anos agora e tou apaixonado
    Esta pequena ela diz
    Bukowski
    E eu digo O quê e ela diz
    Eu acho que tu és um bazófias
    E deu digo querida tu compreendes-me
    Ela é a única gaja no mundo
    Homem ou mulher
    Eu aceito isso
    Mas vocês não sabem o que é o amor é
    Elas voltam todas a mim no fim também
    Todas elas voltam
    Excepto aquela que vos contei
    Aquela que eu lancei Nós estivemos juntos durante 7 anos
    Costumávamos beber muito
    Eu vejo uns quantos escritores nesta sala mas
    Não vejo qualquer poeta
    Não estou surpreendido
    Vocês têm que estar apaixonados para escrever poesia
    E vocês não sabem o que é estar apaixonado
    Esse é o vosso problema
    Dá-me um bocado desse material
    É isso nenhum gelo é bom
    Isso é bom isso é mesmo fixe
    Bem vamos lá por isto a andar
    Eu sei o que disse mas vou tomar só uma
    Isso sabe bem
    Ok então vamos lá acabar com isto
    Só depois não fiquem muito perto

    De uma janela aberta


    Exercício de tradução - Maria Gomes Marques Figueiredo (24.03.2014)

    Vocês não sabem o que é o amor
    (uma noite com Charles Bukowski)

    Vocês não sabem o que é o amor disse Bukowski
    Tenho 51 anos e olhem para mim
    Apaixonado por esta miúda
    Eu estou apanhadinho mas ela também
    Por isso está tudo bem pá é assim que deve ser
    Entro-lhes no sangue e elas não conseguem livrar-se de mim
    Tentam tudo para se afastar de mim
    Mas todas voltam no fim
    Todas voltam para mim excepto
    Aquela que eu plantei
    Eu chorei por essa
    Mas chorava com facilidade na altura
    Não me deixem tocar na cena pesada
    Torno-me mau
    Podia ficar aqui a beber cerveja
    Com vocês hippies a noite toda
    Podia beber dez litros desta cerveja
    E nada é como se fosse água
    Mas deixem-me chegar à cena pesada
    E começo a atirar pessoas pela janela fora
    Já o fiz
    Mas vocês não sabem o que é o amor
    Não sabem porque nunca
    Estiveram apaixonados é simples
    Tenho esta miúda ela é linda
    Ela chama-me Bukowski
    Bukowski diz ela com aquela vozinha
    E eu digo o que é
    Mas vocês não sabem o que é o amor
    Estou a dizer-vos o que é
    Não há um de vocês nesta sala
    Que reconhecesse o amor se ele se chegasse à frente
    E vos entrasse pelo cu
    Costumava pensar que leituras de poesia eram uma saída fácil
    Reparem tenho 51 anos e ando aqui há muito tempo
    Eu sei que são saídas fáceis
    Mas disse para mim mesmo Bukowski
    Passar fome é mais ainda uma saída fácil
    Então aí estás tu e nada é como deveria ser
    Aquele tipo como é que se chama Galway Kinnell
    Vi a fotografia dele numa revista
    Ele tem uma tromba bonita
    Mas ele é um professor
    Cristo conseguem imaginar
    Mas vocês também são professores
    Aqui estou eu já a insultar-vos
    Não não tive notícias dele
    Ou dele
    São todos térmitas
    Talvez seja por ego já não leio muito
    Mas esta gente que constrói
    Reputações com cinco ou seis livros
    Térmitas
    Bukowski diz ela
    Porque ouves música clássica o dia todo
    Conseguem ouvi-la
    Bukowski por que ouves música clássica o dia todo
    Não te surpreende isso
    Não pensavas que um gajo rude como eu
    Pudesse ouvir música clássica o dia todo
    Brahms Rachmaninoff Bartok Tellemann
    Merda eu aqui não conseguia escrever
    Demasiado calmo aqui em cima demasiadas árvores
    Eu gosto da cidade é esse o meu lugar
    Ponho a minha música clássica todas as manhãs
    E sento-me em frente à minha máquina de escrever
    Acendo um charuto e fumo-o assim estão a ver
    E digo Bukowski és um homem com sorte
    Bukowski passaste por tudo
    E és um homem com sorte
    E o fumo azul vagueia ao longo da mesa
    E olho pela janela para a Avenida Delongpre
    E vejo pessoas para cima e para baixo nos passeios
    E eu dou um bafo no charuto assim
    E depois pouso o charuto no cinzeiro assim e respiro fundo
    E começo a escrever
    Digo Bukowski isto sim é vida
    É bom ser pobre é bom ter hemorróidas
     É bom estar apaixonado
    Mas vocês não sabem como é
    Vocês não sabem como é estar apaixonado
    Se a vissem sabiam o que quero dizer
    Ela pensava que eu vinha aqui e mandava uma
    Ela simplesmente sabia
    Ela disse-me que sabia
    Merda tenho 51 anos e ela 25
    E estamos apaixonados e ela tem ciúmes
    Jesus é lindo
    Ela disse que me arrancava os olhos se eu viesse aqui
    E fodesse
    Isto é o amor
    O que é que algum de vocês sabe sobre o assunto
    Deixem-me contar-vos uma coisa
    Conheci homens na prisão que tinham mais estilo
    Do que as pessoas que andam pelas faculdades
    E vão a leituras de poesia
    São sanguesugas que vieram para ver
    Se as meias do poeta estão sujas
    Ou se ele cheira mal debaixo dos braços
    Acreditem que não os vou desiludir
    Mas quero que se lembrem disto
    Sá há um poeta nesta sala esta noite
    Sá há um poeta nesta terra esta noite
    Talvez só um verdadeiro poeta neste país esta noite
    E esse sou eu
    O que é que algum de vocês sabe sobre a vida
    O que é que algum de vocês sabe sobre alguma coisa
    Quem aqui foi despedido de um trabalho
    Ou já bateu na sua gaja
    Ou já levou da sua gaja
    Fui despedido do Sears e Roebuck cinco vezes
    Despediam-me e contratavam-me outra vez
    Fui repositor deles quando tinha 35 anos
    E depois fui preso por roubar bolachas
    Eu sei como isso é já lá estive
    Tenho 51 anos agora e estou apaixonado
    A miúda ela diz
    Bukowski
    E eu digo o que é e ela diz
    És um tretas
    E eu digo querida tu entendes-me
    Ela é a única gaja no mundo
    Homem ou mulher
    De quem eu aceito isso
    Mas vocês não sabem o que é o amor
    Todas voltam para mim no fim
    Cada uma delas voltou
    Excepto aquela sobre quem vos falei
    Aquela que plantei estivemos juntos sete anos
    Costumávamos beber muito
    Vejo uns quantos dactilógrafos nesta sala mas
    Não vejo poetas
    Não me surpreende
    Tens que já ter estado apaixonado para escrever poesia
    E vocês não sabem o que é estar apaixonado
    É esse o vosso problema
    Dá-me um bocado dessa cena
    Sim sem gelo
    Está bom está óptimo
    Vamos lá começar o espectáculo
    Eu sei o que disse mas vou tomar só um
    Sabe bem
    Ok então vamos lá acabar com  isto
    Só que depois ninguém se aproxime

    De uma janela aberta