Ferreira Fernandes: Quando noticiar é um circo
Título parvo: "Monstro procurado em Coimbra." E converseta de telenovela: "Caça ao homem!" Só faltou fotografá-lo a dizer "Baltazar, Manuel Baltazar" soprando o fumo dos zagalotes. Ele tem nome que caberia em "Baltazar procurado em Coimbra" e saber-se-ia quem é. O tipo que fuzilou ex-sogra, ex-tia, ex-mulher e filha, que só não é ex-filha porque ele falhou o tiro. Preferiram o circo. Mas o problema com ele não é ser "o monstro". E quanto à teatral "caça ao homem!" é ver ao contrário: o drama é tanto "homem à caça" quando a visada é a mulher. Ao emprestarem a Baltazar a categoria de "monstro" os jornais não entenderam que o problema não é anomalia mas a normalidade. Mais uma vez o erro que tantas vezes trago aqui: "de que estamos a falar quando estamos a falar?" é a menor das interrogações dos jornais nacionais. No caso, é não entender nem as notícias que tão repetidamente trazem. Acontecidas entre pobres e ricos. Há anos, contei a história dum médico, reputado, com tabuleta no centro do Porto e dirigente político, que sequestrava a mulher. Sequestro provado, com denúncia da vítima, família e vizinhos. O médico processou-me - com este argumento: "meteu-se entre marido e mulher" (sic) - e o Ministério Público achou que era coisa com pernas para andar até ao tribunal. Valeu-me, talvez, ser uma juíza a julgar, menos cega à guerra civil que nos cerca. Chamar "monstro" ao Baltazar é pôr espetáculo numa indecente doença nacional.
Título parvo: "Monstro procurado em Coimbra." E converseta de telenovela: "Caça ao homem!" Só faltou fotografá-lo a dizer "Baltazar, Manuel Baltazar" soprando o fumo dos zagalotes. Ele tem nome que caberia em "Baltazar procurado em Coimbra" e saber-se-ia quem é. O tipo que fuzilou ex-sogra, ex-tia, ex-mulher e filha, que só não é ex-filha porque ele falhou o tiro. Preferiram o circo. Mas o problema com ele não é ser "o monstro". E quanto à teatral "caça ao homem!" é ver ao contrário: o drama é tanto "homem à caça" quando a visada é a mulher. Ao emprestarem a Baltazar a categoria de "monstro" os jornais não entenderam que o problema não é anomalia mas a normalidade. Mais uma vez o erro que tantas vezes trago aqui: "de que estamos a falar quando estamos a falar?" é a menor das interrogações dos jornais nacionais. No caso, é não entender nem as notícias que tão repetidamente trazem. Acontecidas entre pobres e ricos. Há anos, contei a história dum médico, reputado, com tabuleta no centro do Porto e dirigente político, que sequestrava a mulher. Sequestro provado, com denúncia da vítima, família e vizinhos. O médico processou-me - com este argumento: "meteu-se entre marido e mulher" (sic) - e o Ministério Público achou que era coisa com pernas para andar até ao tribunal. Valeu-me, talvez, ser uma juíza a julgar, menos cega à guerra civil que nos cerca. Chamar "monstro" ao Baltazar é pôr espetáculo numa indecente doença nacional.
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